O homem não "parecia" um psicopata perigoso. Seu cabelo loiro claro já escasseava, e seu olhos castanho claros não refletia o desesperado brilho da loucura. Até mesmo seu suéter cinza, agora manchado com o sangue de pelo menos um dos seguranças, tinha um ar irremediavelmente mundano. Ele sorria fracamente quando se voltava para Augustus, afastando alguns cachos de cabelo do rosto com a mão esquerda, ainda suja de sangue.
"Pembroke", ele disse casualmente, como quem se dirige a um colega de serviço no elevador. Augustus não relaxou, não tirou a mão da Glock 17 ainda no coldre.
"Richard, está na hora de irmos", disse Augustus de igual para igual, mas com firmeza.
"Só um momento Pembroke", replicou Richard Priest, bani Flambeau, "Ainda há algumas coisas que eu quero ver antes de sair, e então ficarei mais que feliz em sair com você. Isso só vai levar mais uns cinco minutos."
Augustus lentamente sacou sua arma. Algo no tom de voz do Flambeau lhe dizia que, embora perfeitamente lúcido, ele não tinha a menor intenção de sair antes que seu serviço lá estivesse completo. Apontando a arma para baixo por enquanto, o Tytalus insiste. "Richard, é hora de sair, agora. Você não vai terminar o que veio fazer aqui. Eu não posso deixar."
Richard analisava destraidamente o amplo corredor de paredes mas pareceu abalado pela declaração de Augustus. Ele olha o outro mago, suspirando com sorriso forçado e vazio. "Eu imaginei que você diria isso. É triste também. Eu esperava que você entendesse. Ou caga ou desocupa a moita"
As palavras foram como uma ferroada em Augustus, mas ele não deixou que sua expressão o traísse. Havia dito aquelas mesmas palavras a Richard havia apenas três anos, quando este era um agradável e bondoso Bonisagus. É claro, quando ele solicitou a associação à Casa Flambeau um ano mais tarde, apenas duas semanas após o ataque Tecnocrático, eles se mostraram mais que satisfeitos em aceitar um Adepto beirando a Maestria em suas colunas.
Richard continuou, "Eu sei o que muitos companheiros na Ordem estão dizendo sobre mim depois do incidente na fábrica de compotas, e especialmente depois do blecaute, mas eu posso ver, dentro do meu coração, que é preciso ser feito. Se fosse vingança, Augustus, eu estaria caçando as famílias de Tecnocratas, não é mesmo? Eu estou apenas mostrando aos Adormecidos que as ferramentas da Tecnocracia não são mais benevolentes e confiáveis que os nossos meios, como a Ordem da Razão um dia fez parecer. Com certeza você vê a lógica nisso..."
"Mas uma usina nuclear, Richard?" Augustus murmurou entre dentes, segurando firmente a arma, "Você vai matar centenas - não, dezenas de milhares de pessoas."
"Eu sei," Richard sussurrou, parecendo doído e envergonhado, mas ainda assim resoluto. "Eu vi o que uma rajada nuclear faz com aqueles no marco zero e o que faz com aqueles pegos na zona de descida das partículas nucleares. Eu não estou orgulhoso do que eu estou fazendo Pembroke.
"Então pare de fazer," replicou Augustus, removendo a trava de segurança de sua arma.
"Sabe, Pembroke," retorquiu Richard, sem desfazer o vazio e cruel meio sorriso, "Eu me lembro de dizer quase exatamente a mesma coisa para aquele Homem de Preto, justo antes dele atirar bem no rosto da minha garotinha: Por favor, pare. Foi só o que pude pensar em dizer. É o tipo de coisas que um homem desesperado diz quando a inevitabilidade está prestes a passar como um rolo compressor e deixar seu mundo em pedaços"
"Você não pode punir os Adormecidos pelas mortes de sua mulher e filha," disparou Augustus, agora começando a lançar uma contramágica de Ars Virium mentalmente. Richard havia sido um grande estudante de Ars Potentiae, agora seu domínio na esfera fundamental da Ordem eclipsava até mesmo seu considerável conhecimento das artes Primordiais.
"Não estou punindo-os, Pembroke," disse Richard, como se explicasse o problema a uma criança. "Estou tentando ajudá-los a romper com a ilusão de conforto e segurança que estrangula a Terra. De tempos em tempos temos visto que somente o medo e a ameaça da dor têm o poder de levar os Adormecidos a mudar de perspectiva. Você concorda que temos o dever de protejê-los, Pembroke?
"É claro," replicou o Tytalus.
Richard riu amargamente. "E se você tiver que permitir a dor de milhares, para dar a milhões a força para salvarem a si mesmos? O que os seu treinamento Tytalus diz sobre eliminar a fraqueza e a sobrevivência do mais adaptado?"
"Meu treinamento?" perguntou Augustus. Ele então correspondeu o frio sorriso de Richard. "Me diz que a sua loucura é uma fraqueza dentro da nossa Ordem e que sua campanha de retaliação termina essa noite."
Naquele momento, no entanto, Augustus comete um erro. Enquanto recitava mentalmente as contramágicas de Forças, ele silenciosamente pronuncia duas sílabas de seu feitiço em voz alta. Não foi mais alto que um murmúrio, mas Augustus não tinha nenhuma dúvida que Richard havia aguçado seus sentidos misticamente para aquela empreitada. Ele sabia.
E, estranhamente, não pareceu nem um pouco precupado.
Mas Augustus sabia que Richard Priest, mesmo sendo determinado, não era arrogante. Seu controle de Ars Virium não superava o do Tytalus a ponto de poder dispersar a mágica de Augusts completamente. Mas qual era seu ângulo? Quando Richad fechou os olhos e proferiu um curto comando em Enochian sob sua respiração, selos flamejantes queimaram o ar ao seu redor, e Augustus percebeu.
O Tytalus levantou sua arma e disparou três tiros, quebrando o frasco de óleo aromático em seu casaco com a mão esquerda enquanto atirava, tecendo assim uma contramágica de Primórdio. A tentativa de Richard de queimar os padrões das balas resvala no poderoso feitiço de Augustus e dois projéteis o atingem nas coxas, enquanto o terceiro o atinge no estômago. Enquanto ele se contorce de dor, o Tytalus tece mais alguns poderosos encantamentos concentrando uma antimágica generalizada em Richard.O Flambeau olha para cima.
"Você vai me matar?"
Augustus o nocauteia com a coronha da arma, deixando-o inconsciente. "Essa é uma decisão para os Quaeritori". Ele puxa seu celular do casaco com a mão esquerda sangrando e liga para o número na discagem rápida. "Julian, está feito, Eu preciso de uma saída"
Enaquanto a distorção espacial se abre no ar, Augustus Pembroke, bani Tytalus, deixa a Usina Nuclear de Seabrook com seu prisioneiro sobre o ombro, ele não podia deixar de pensar no que fora ganho naquela noite, e no que fora perdido.